Vocês já devem estar sabendo da minissérie “A Pedra do Reino”, que o diretor de TV (Hoje é dia de Maria) e cinema (Lavoura Arcaica) Luiz Fernando Carvalho gravou em Taperoá, e que será exibida na Globo no meio do ano. Vocês também devem saber que se trata de uma adaptação da obra homônima de Ariano Suassuna, lançada em 1971 e relançada há pouco pela José Olympio.
O romance mistura elementos das culturas ibérica e nordestina com fatos da Revolução de 30. João Suassuna foi o último presidente da província antes de João Pessoa, que representava outro grupo político. No calor que sucedeu a morte de João Pessoa, o pai do escritor acabou sendo assassinado, quando Ariano tinha apenas três anos. Ariano nunca esqueceu o fato. Tanto que, dizem os chegados, até hoje ele evita tocar no assunto. Alguns críticos dizem que escrever a Pedra do Reino foi uma vingança contra o grupo que promoveu a morte de seu pai.
O que provavelmente vocês não conhecem é a verdadeira história da tal Pedra do Reino, uma sangrenta seita sebastianista. A carnificina, que vocês já vão conhecer melhor, inspirou também o romance Pedra Bonita, de Zé Lins.
Num acampamento em pleno sertão pernambucano, 17 homens, de repente, sacam seus facões. Com eles, executam mulheres, crianças e velhos. Outros, num estado de descontrole, seguem o exemplo. Assassinam seus próprios pais, filhos e esposas. Usam o sangue para lambuzar duas torres de pedra, marcos do acampamento. As mesmas pedras servem para quebrar o crânio de crianças. Mais de 200 pessoas são mortas.
É 14 de maio de 1838.
A história da Pedra do Reino começa dois anos antes da chacina, em Vila Bela, comarca de Serra Talhada - a mesma Serra Talhada que deu Lampião ao mundo. Um dia, um rapaz de nome João Antônio Vieira dos Santos afirmou que dom Sebastião habitava um reino encantado perto de um local conhecido como Pedra Bonita. Em suas pregações, angariou dinheiro dos seguidores e montou um acampamento no tal lugar. O Primeiro Reinado da Pedra Bonita, como ficou conhecido, foi marcado por discursos fanáticos e idéias contra o poder e a propriedade privada. As autoridades não gostaram e botaram João Antônio e companhia pra correr.
Dois anos depois, outro homem, João Ferreira, que dizia ter visões de dom Sebastião, assumiu o lugar de João Antônio e continuou a arregimentar pessoas para seu acampamento.
O segundo reinado da Pedra Bonita teve mais de 300 moradores. A vida nele era um tanto bizarra. Os habitantes passavam o dia embriagados e fumavam uma certa erva alucinógena para “entrar” no reino de dom Sebastião. A matança ocorreu pouco após João Ferreira anunciar que, numa visão de dom Sebastião, este afirmava que o sangue dos seguidores o traria de volta. A polícia soube do ocorrido e mandou 60 homens a Pedra Bonita. Houve um enfrentamento entre eles e os seguidores – e mais 22 mortes. O criador da seita João Antônio, acabou morto.
O Sebastianismo é um movimento místico português iniciado no século 16, que pregava que o rei Sebastião, morto numa batalha, voltaria para ocupar o trono. No Brasil, essa idéia foi incorporada no sertão nordestino e inspirou movimentos como o de Canudos.
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