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25.11.06

A morte do Dr. João Pessoa

GOVERNAR sempre foi, em todos os tempos, um duro officio. O exercício da autoridade paga um tributo pesado. É que a encarnação do principio de autoridade exige, em muitas circumstancias, como deveres indeclináveis, a resistência inquebrantável e a opposição inflexível a todos os actos que a desafiam, a enxovalham ou a diminuem.
Se ha um exemplo impressionante de quanto o cumprimento desse dever de prestigiar a autoridade pode expor o governante aos perigos truculentos da ira, esse exemplo nos é dado pela carreira do presidente da Parahyba, trucidado pela vindicta implacável de um adversario.

Quando, a 22 de Outubro de 1928, o presidente João Pessoa assumiu o governo da pequena Parahyba, o que o esperava? A regência de um Estado com menos de quinhentos mil réis em cofre, devedor de quatro meses de honorários aos seus funccionarios, com o seu progresso paralysado pelas angustias de uma situação financeira deplorável, com os sertões infestados por uma turbulência intimidativa e bellicosa. E todos vimos esse homem devotar-se com uma abnegação austera e arrebatada á missão de sanear a administração, de disciplinar a anarchia, de abrir escolas, de construir estradas, de subordinar a um critério severo de ordem, de methodo, de previdencia o exercicio da alta magistratura política de que estava investido. Nada deixava então prever que esse governador exemplar, empenhado em bem administrar, absorvido na tarefa de concertar as finanças avariadas, de pagar os credores, de amortisar e liquidar emprestimos, de inaugurar uma phase constructiva no governo da pequena Parahyba, ia ser precipitado numa luta politica e acabaria prostrado por um inimigo, como um tyranno.

Os commentarios que esse epílogo funesto e imprevisto poderiam inspirar, como antecipação dos que a Historia lhe reserva, já se acham conclusos, nem esta revista seria, pela sua indole, a mais apropriada para os recapitular. Por mais accesas que sejam as paixões nos dois campos em que se degladia a politica nacional, não pode haver quem não se incline com respeito perante, a memoria desse heroe cívico, fulminado no seu posto, victima do seu dever, e quem não condemne como um ultraje á civilização brasileira a solução homicida que tão tragicamente personifica na sua iniquidade os elementos de desordem e de rebellião, cujas bandeiras de anarchia são um arrogante desafio ao principio da autoridade.

As photographias que reproduzimos nesta pagina evocam a hora culminante da carreira politica do mallogrado presidente da Parahyba, quando o dr. João Pessoa veio ao Rio de Janeiro, onde se encontrou com o presidente do Rio Grande do Sul, dr. Getulio Vargas, para a leitura da plataforma em que se expunha ao pais o programma de governo dos dois candidatos da Alliança Liberal.

Ainda então não se manifestara a dissenção politica que collocou o governo da Parahyba perante o desafio e a ameaça de uma rebellião interna, que ali criou um estado de guerra. O dr. João Pessoa vivia o periodo exaltante em que a sua obra de administrador era tida e apresentada como um modelo. O prestigio que envolvia o seu nome não despertara ainda quaesquer clamores de antagonistas feridos pela opposição de sua autoridade, e ninguem poderia prever o desenlace que o destino preparara para o magistrado-estadista, para o saneador das finanças da Parahyba, para o reorganisador exemplar dos serviços publicos. Não tinham sido ainda postas á prova as proeminentes capacidaes de lutador — aliás peculiares á sua familia — de que era dotado aquelle varão, que a fatalidade ia arrancar ao labor pacifico de administrador do pequeno Estado natal e transformar no energico paladino do principio de autoridade, compellido a sustentar uma luta armada e a improvisar um exercito, sem que o seu animo desfallecesse perante os obstaculos que se multiplicavam e que, ao mesmo passo que lhe embaraçavam a acção voluntariosa, faziam sobresair a varonil firmeza da sua attitude.

A consternação que a sua morte imprevista espalhou no pais e a exasperação que caracterizou as expansões de grande parte do povo parahybano ao ter conhecimento do crime que o privara do seu chefe resoluto, certificam com eloquencia maior que a da phraseologia dos necrologios a perda que importou para a nação o anniquilamento dessa vida.

Publicado na revista O Cruzeiro de 2 de agosto de 1930
Fonte: Memória Viva

19.11.06

Andróides não têm nome, têm número. E todo mundo chama seus andróides pelo tal número, menos eu, que tenho o estranho hábito de batizar minhas namoradas ginóides. A primeira foi Ana Dróide, de quando era adolescente e tinha um péssimo gosto pra trocadilhos.
Um belo dia THX-2001 quis saber, enfim, porque a batizei de Angelina.
- Você é uma cópia extremamente fiel de uma atriz de cinema americana do início do século, Angelina Jolie. Ela fez uns filmes muito bons, como Alexandre e o excepcional Tomb Raider.
- Ah... e você, por que te deram esse nome?
- Eu? Ah, senta que lá vem história. Minha bisavó conhecia um cara que se chamava Fernando Antônio. Na verdade, ela gostava dele, entende? Como eu gosto de você. Só que aí, por motivos não muito claros, ela acabou casando com meu bisavô. Essa minha bisavó, já bem velhinha, contou essa história pra minha mãe. Segundo minha mãe, ela disse que nunca esqueceu esse Fernando Antônio e nunca conseguiu ser plenamente feliz com o marido. A minha mãe foi a primeira e única pessoa pra quem ela contou aquele segredo. Minha mãe achou essa história tão bonita que acabou resolvendo homenagear o tal Fernando, botando seu nome no filho dela.

15.11.06

- Angelina, você gosta mesmo de mim?
- Claro que sim, Fernando.
- O que você viu em mim?
- Você é austero.
- ?!?!?!?!
- ?
- Austero? Tanta coisa que você podia achar de mim. Bonito, inteligente, tesudo, sexy, bom de cama, bom de papo, gostoso, atraente, formidável, interessante, broto e você me diz que eu sou austero?!
- Mas...

Procurei ficar calmo e mudei de assunto pra tranquilizar a pobrezinha. Podia dar curto-circuito.

13.11.06

O primeiro amor de Angelina foi André. André, o andróide, teve um triste fim. André era um andróide vagabundo. Desses que nem à prova d’água são. André também era um idiota. Um belo dia, André mergulhou na piscina. Queria se exibir pra Angelina. Achou que nada aconteceria. Estrebuchou na frente da pobrezinha.

11.11.06

Há algo de ingênuo e de submisso nas ginóides que me atraem muito. As mulheres são metidas, arrogantes, independentes. E interesseiras. A maioria só sai com quem tem nave própria - as maria-hidrogênio. Como as mulheres hetero são cada vez mais raras (7%, segundo o último censo do IBGE), elas abusam do direito de fazer os homens de gato e sapato. Como é pouca fêmea pra muito macho, a poligamia virou prática não só aceita pela sociedade, mas incentivada. Isso faz com que muitos ainda consigam arranjar mulher. Eu não. Tô nem aí. Meu negócio é ginóide. Não são complicadas, não dão trabalho, não dão prejuízo, não traem, não pedem flores, não reclamam se você não ligar no dia seguinte.
E depois da produção independente, aí é que as mulheres ficaram se achando. Dizem que a gente tá em desuso.
Mulheres, quem precisa delas? Mulher é coisa do passado. Mulher é pra otário. Meu negócio é ginóide.

8.11.06

Humanos que mantêm relacionamentos sérios com ginóides não são bem vistos pela sociedade.
As ginóides são fabricadas, em tese, apenas para a realização de tarefas domésticas. Mas, hipocritamente, têm outra função - bem diferente. A pele sintética, o rosto e os seios cuidadosamente trabalhados, cabelos reluzentes e vaginas térmicas e vibráteis revelam as segundas intenções dos fabricantes. Angelina é perfeita. Aliás, minto: ela não pode estalar os dedos.
Angelina é minha namorada. Eu a chamo assim por causa de uma atriz de cinema do final do século passado e início deste. Angelina tem a boca de Angelina Jolie, os peitos de Angelina Jolie, os olhos verde-mijo de Angelina Jolie.
As indústrias logo perceberam que podiam ganhar fortunas com a incapacidade dos nerds pra arranjar mulher associada à escalada do homossexualismo feminino. As ginóides são uma mistura de empregadas domésticas com aquelas bonecas infláveis que a gente vê nos livros de história. São isso. Mas são muito mais que isso.
Vou falar do meu primeiro amor. Vejam como não é de hoje minha quedinha por ginóides. Minha primeira paixão foi Ana. Ana Dróide. Meu pai comprou Ana Dróide pra tirar a minha virgindade - embora tenha dito à minha mãe que foi pra lavar roupa. Começar a vida sexual com ginóides é uma tradição. “Pratique com um robô pra ganhar experiência”. Acontece que, pra decepção do velho, eu me apaixonei por Ana Dróide e fiz dela minha namorada. Coitado do meu pai. Sabe como é pai, né? Sempre acredita na regeneração dos filhos. Portanto imaginem eu chegar pra ele agora e dizer que novamente estou apaixonado por uma ginóide?

6.11.06

Cemitério maldito
...o pai dele tava... tava tomando banho... o gato apareceu na... na janela lá do... do... do banheiro... ele tava tomando banho na banheira... ele pulou dentro e rasgou o... o... o pai dele todinho num matou não... só fez arranhar né?... depois ele pegou um cabo de vassoura... meteu no gato e o gato foi embora...

Explicação:
Admite-se que a correlação entre marcação estrutural, marcação cognitiva e baixa freqüência de ocorrência é o reflexo mais geral da iconicidade na gramática, dado que representa o isomorfismo entre correlatos substantivos (de natureza comunicativa e cognitiva) e correlatos formais da marcação.

3.11.06

Flora abandonou o curso de direito na universidade federal. Non scholae, sed vitae discimus. Tem 21 mas parece 16. Foi duas vezes à Europa. Aprecia cinema, música, quadrinhos, literatura. E línguas. Toujours. Mora sozinha. Gosta de jogar pôquer e conversar com amigos de toda parte do mundo. Vícios? Está tentando largar o cigarro com acupuntura. Namorado? "Tenho". Ele não sabe? "Não". E se ele descobrir? "Azar o dele, não é?" Fora as roupas isso foi tudo o que consegui arrancar dela até deixar sua casa ontem às 4h30. Pra mim foi 150 mas ela disse que já chegou a cobrar 800. Talvez seja mentira. Talvez ela nem se chame Flora. Muito menos Nana, como está no anúncio. Provechoso? I never felt anything like that before, man.

2.11.06

Eu não gosto muito dessa coisa de "você não pode perder", mas o convidado do qudro Residência do Recorte Cultural essa semana é João Moreira Salles.
Você não pode perder.

A maior vitória de Lula foi no Amazonas, onde teve 86% dos votos. O engraçado é que a maior derrota dele foi ali do lado, em Roraima, onde conseguiu módicos 28%. Não é curioso?