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24.9.11

O meu "Viajo porque preciso, volto porque te amo":


Quer saber o verdadeiro motivo dessa viagem? Você. Ou melhor, esquecer você. Aí eu passo por Campina e começo a me lembrar daquela noite em que quebramos a cama e não fizemos mais nada a não ser dar gargalhadas. A imagem de você rindo e tapando a boca com as mãos não me saía da cabeça. Todo esse tempo comigo e nunca deu uma risada sem esconder o sorriso. Soledade, Juazeirinho, Junco do Seridó e começo a subir a serra. Bem quando começa a escurecer. Ver o crepúsculo na serra de Santa Luzia foi demais pra mim. Comecei a chorar, acredita? E sabe há quanto tempo eu não chorava? Aí parei num posto e o frentista álcool ou gasolina, doutor? Álcool. Mas não pro carro, é pra mim mesmo. O que você tem aí de bebida? Agora só tem Dreher, doutor. Manda. E lá vou eu de Santa Luzia até Patos tomando conhaque no gargalo e dirigindo. Você sabe o que é dirigir mais de 40 quilômetros numa rodovia à noite e bêbado? Mas tem mais. Música, pensei, música vai me distrair. Liguei o rádio. Não tinha levado CD. Só pegava uma FM. Sabugi FM, acho que era isso. A Sabugi FM devia tocar Cavaleiros do Forró, Calcinha Preta, Calypso. Ou Luiz Gonzaga. Mas em vez disso tocou Fagner e Zé Ramalho. É sacanagem demais, o caba chorando de dor-de-cotovelo e ter que ouvir Zé Ramalho e Fagner? Mas então cheguei em Patos, vivo e sem ganhar nenhum ponto na carteira. Era noite e a cidade tava movimentadíssima por causa dos turistas. Não se via um carro com placa de lá. E desses carros as músicas que saíam, agora sim, eram de Cavaleiros do Forró, Calcinha Preta e Calypso. Meu Deus, o que porra eu tô fazendo aqui? Visitei alguns parentes rapidamente e inventei uma desculpa pra voltar. Viajei na mesma noite, não passando de 80 por hora, afinal tinha bebido mais da metade daquela garrafa sozinho. Cheguei em casa, a primeira coisa que fiz, não, a primeira foi dormir, a segunda coisa que fiz, com ressaca mais da desilusão do que do Dreher, foi apagar tudo o que me lembrasse você do computador. Tudo. Começando pelo papel de parede. Não ficou uma foto, não ficou um e-mail. Ah, te bloqueei no MSN pra não correr o risco de entrar e você estar on line. E deletei as MP3 de Fagner e Zé Ramalho.




10.9.11

Pílula de genialidade de Anatol Rosenfeld, escrita nos anos 1960 e mais atual do que nunca:

"Aliás, mesmo diante de um fotógrafo despretensioso a pessoa tende a compor-se, tomar uma pose, tornar-se “personagem”; de certa forma passa a ser cópia antecipada da sua própria cópia. Chega a fingir a alegria que deveras sente."

2.9.11

"Sabrina não saía da minha casa. Trouxe uma mala com coisas, roupas, discos de Tim Maia. Comecei a ficar com raiva dela, com raiva do Tim Maia, mas mesmo assim fodíamos fodíamos, maldito banco, malditas notas novinhas saídas fresquinhas da Casa da Moeda. Eu sabia a hora em que Sabrina chegava e antes dela chegar eu pegava o retrato de Paula e tocava duas punhetas para eu poder broxar na cama e ela se decepcionar comigo e largar do meu pé. Mas Sabrina tinha maneiras de fazer o meu pau ficar duro e lá íamos nós, aquela loucura. E eu era obrigado a tomar vitaminas, que Sabrina me empurrava goela baixo, e mingau de aveia e pó de guaraná e uma outra beberagem de ervas que ela preparava na cozinha.

(...)

E fodemos fodemos fodemos no dia seguinte a tarde inteira e todos os dias da semana, a tarde inteira, e na sexta-feira ela disse que só ia me ver na segunda e perguntou se com as outras mulheres eu também era assim. Eu não era bobo e dei a palavra de honra que não nunca havia acontecido aquilo comigo, era ela que fazia aquilo acontecer, eu gostava dela, amava ela e estava apaixonado por ela, gostava dela como uma criança gosta de sorvete de chocolate e amava ela como uma mãe ama o filho e estava loucamente apaixonado por ela e por isso eu fodia ela como um tigre fode uma onça. E a gente ria nos intervalos e comia sanduíche de queijo quente com coca-cola e eu não estava mentindo, com as outras mulheres era um mero rebote das notas da Casa da Moeda estalando, mas com Paula era paixão. Doía elevava inspirava sangrava."

Isso é Rubem Fonseca, gente.