Nessa parte de Nova Orleans sempre se está próximo de uma esquina e sempre se ouve, algumas portas abaixo, na rua, o som de estanho de um piano tocado com a apaixonada fluência de dedos escuros. Esse piano toca blues e expressa o espírito da vida que se leva nesse lugar.
Há qualquer coisa em relação às suas maneiras e em relação às suas roupas claras que lembram uma mariposa.
STANLEY: Eu não me incomodo com essas bobagens.
BLANCHE: Que bobagens?
STANLEY: Elogios. Mulheres. Nunca encontrei uma mulher que não soubesse se era bonita ou não, sem precisar que lhe dissessem, e algumas delas julgam-se mais do que realmente são. Uma vez, saí com uma que costumava dizer: "Eu sou o tipo glamour". E eu respondi: "E daí?"
BLANCHE: E o que foi que ela lhe disse?
STANLEY: Não disse nada. Se fechou como uma ostra.
BLANCHE: E acabou o romance?
STANLEY: Acabou a conversa - apenas isso. Alguns homens são apanhados por esse negócio de fascinação de Hollywood, e outros não.
BLANCHE: O senhor é simples, direto e honesto, pendendo um pouquinho para o lado primitivo. Para interessá-lo uma mulher teria de... (Faz uma pausa, com um gesto indefinido).
STANLEY: Pôr as cartas na mesa.
BLANCHE: Pois bem, cartas na mesa. Isso me convém. (Volta-se para Stanley) Eu sei que minto muito. Afinal, o encanto de uma mulher é cinqüenta por cento ilusão.
5169) "Flow" e a arte de narrar (6.4.2025)
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