Pesquisar este blog

19.8.10

Pra quem (não) conhece, um pouco de Sérgio de Castro Pinto

etílico

a vida é dose!

de gole
em gole

- com um olho
cheio
de rum

e o outro
sem rumo -,

o mundo é um porre!

domiciliares

a) bêbado, cadarços são rédeas
que me põem os sapatos.

bêbado, não chego.

bêbado, os sapatos
me entregam a domicílio.

geração 60

a carta branca do montilla
não era de alforria.

o papagaio era calado.

o cuba-livre nos prendia.

e em barris de carvalho
o tempo envilecia.

à companhia de água e esgotos

o hidrômetro
registra
um pingo

de minha vida
sob o chuveiro.

(no fim do mês,
engulo em seco:

taxam-me o dilúvio inteiro!)

noturnos

c) nenhuma ovelha
pula a cerca
de minha insônia.

abato a todas.

e quanto à lã
serve de enchimento
para o travesseiro.

serve
- a cada manhã –
para travestir-me
de cordeiro.

papel de jornal

no papel de jornal
cabe o presente
e o seu papel
de estocar embrulhos.

o presente
e o seu papel
de estocar embrulhos.

no papel de jornal
transporto o presente
e o seu papel
de estocar embrulhos.

o presente
e o seu papel
de provocar engulhos.

no papel de jornal
cabe todo o presente.

o presente
e o seu papel
de sonegar futuro.

4.8.10

(auto)escola da vida

Ontem reprovei pela segunda vez na prova do Detran. O capítulo mais recente da novela que já dura 6 meses e 600 reais.

Mas vamos voltar um pouco. Durante as aulas práticas, achei a coisa toda de dirigir muito complicada, chata, estressante. Desânimo total. A sensação era de que, dirigir, só se for o jeito. Também não gostei do instrutor, que, apesar de mineiro, é impaciente. Paciente fui eu que não o "demiti". Enfim. Mas nunca pensei em desistir de tirar a carteira. Paguei, né?

Penando, consegui aprender a fazer meia-embreagem, baliza e garagem. Na pista de treino da autoescola era menos ruim que no trânsito, já que não havia... trânsito, a não ser de outros carros da própria autoescola, e o instrutor aporrinhava menos.

Na hora da prova, eu, Mr. Freeze, tremi. Deixei o carro morrer e bati na baliza, de ré, coisa que não havia feito nem durante as aulas...

Porém, de umas cinco ou seis pessoas que pude acompanhar fazendo a prova no mesmo dia, só um cara conseguiu passar, e era a segunda vez dele. Menos mal, pensei...

Aí vou pro reteste mais confiante. Antes, o instrutor deixou que eu praticasse um pouco sem precisar pagar outra aula, mesmo assim ainda reclamou que demorei muito e não explicou direito o que eu estava fazendo de errado, o puto.

Estava bem mais calmo que da outra vez. Não deixei o carro morrer, mas em compensação trombei com a baliza de frente, tentando alinhar o carro. Bizarro.

Porém observei algumas coisas.

1. Curva da morte - Nas minhas duas tentativas, me mandaram pra mesma baliza, que todos apelidam de "da morte". Eu não entendia por quê, até constatar que ela é a única em que a gente precisa fazer uma curva antes. Nas outras, você segue reto e basta alinhar. E isso parece besteira para motoristas experientes, mas é um fator de dificuldade extra, por precisar fazer a curva e ao mesmo tempo ir deixando o carro no ponto de fazer a baliza, e ainda por cima num espaço duas vezes mais estreito ao que nos acostumamos na pista da autoescola...

2. Bater na baliza não mata, ensina a viver - O que vocês despeitados veem como fracasso eu vejo como um alerta. A forma como bati naquela baliza ontem é prova de, mais do que imperícia, imprudência e desatenção absurdas. Absurdo seria permitir que alguém saísse dirigindo assim por aí. Agi como alguém que confunde solução pra lente de contato com colírio e só vai descobrir a confusão depois que o olho tá ardendo. Neste caso, você aprende a sempre ler o rótulo antes, mas no trânsito, pode ser bem mais traumático. Em outras palavras, melhor bater na baliza do que no para-choque de alguém, né? Melhor e mais barato. Apesar de setenta contos não serem desprezíveis.

Bom, rumo à terceira tentativa. Setembro é logo ali. Independência ou ônibus.