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1.11.12

Carniceiro


Nasci em São Mamede. E como todos que nascem em São Mamede eu

Trabalhava em minhas Memórias quando o telefone tocou. Um trabalho, enfim. Um siamês chamado Carniceiro sumira. Como sempre fazia, antes de iniciar toda investigação complexa fui consultar Pai Gouveia, o pai-de-santo.

Um parêntese. Pai Gouveia não quer mais me atender, só porque lhe atrasei alguns pagamentos. Preciso falar a verdade: nunca paguei a Pai Gouveia. Não sei mais onde ele atende, Pai Gouveia é discreto, não precisa de publicidade. Pai Gouveia é outra história. Mas sei quem deve saber onde posso encontrá-lo: Juliana. Pai Gouveia vai me dar o serviço. Sem Pai Gouveia não tem Carniceiro e sem o gato não tem comida no prato.

Juliana é uma dona que andei pegando e resolveu pôr fim ao nosso relacionamento de sete anos e dois meses só porque me sustentava e achava que tinha direito a passar mais tempo comigo. Mais do que as três horas por semana. Mas sou um profissional. Pelo trabalho eu passo por cima do meu orgulho.

Juliana tem o péssimo hábito de não atender ligação a cobrar. Moro tão longe que preciso pegar dois ônibus para comprar um cartão de orelhão. Considero que, depois de três dias, já estava bom de fazer uma refeição e resolvo almoçar no restaurante popular, que cobra R$ 1. Boa, Lula.



Juliana sabe do Pai Gouveia, mas não quer me dar o endereço por telefone, tem que ser pessoalmente.

Tudo na vida tem consequência. O almoço no Centro me deixou sem dinheiro para pegar ônibus e fico esperando, espiando um cobrador com cara de banana para poder dar o ninja. Sou obrigado, agora que o golpe da Manassés não cola mais.

Triiiim. Abre a porta e vai logo me perguntando o senhor da última vez levou daqui uma toalha e um rolo de papel higiênico? Porra, Juliana, boa tarde pra você também. Depois de me obrigar a fazer amor por vinte e duas horas seguidas consigo sair de lá com o que queria. E um pacote de mariola oculto na pochete.

Já sei como chegar a Pai Gouveia. Mas preciso anranjar um disfarce muito bom para que ele me dê a informação que preciso. Ou pedir para alguém perguntar por mim. Mas quem ainda me faria um favor? A quem eu não devo ou nunca roubei? Juliana poderia quebrar mais este galho. Mas pode ser que ela não aceite outro pagamento na única moeda que disponho para oferecê-la. Sem falar no meu orgulho ferido pelo pé na bunda depois de oito anos e cinco meses. Bah. E se eu conseguisse um adiantamento? Será que alguém que batiza um siamês de Carniceiro confiaria neste detetive? Não está fácil pra ninguém. Fecha parêntese.

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