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24.12.06

O direito de copiar

Braulio Tavares

Antigamente (e bota antigamente nisso) amigos meus viviam de gravar fitas cassetes. Hoje a fita cassete marcha para o Museu das Tecnologias Obsoletas, indo juntar-se ao stêncil, à máquina thermofax e à fotografia lambe-lambe. Mas naquele tempo quem tinha uma boa discoteca e um bom gravador produzia fitas caseiras. “Me arranja uma fita só com Joan Baez cantando Bob Dylan”, dizíamos, e o cara passava uma tarde procurando os LPs e copiando as faixas de uma em uma. Pedíamos uma fita com músicas de amor para dar no aniversário da namorada. Ou uma fita só com forrós para um arrasta-pé no sítio de Fulano. Ou uma fita reunindo todos os compactos de Chico Buarque.
Pasmem, mas a indústria musical perseguiu de arma em punho essa industriazinha de fundo-de-quintal. Um artigo recente de Joey deVilla lembra os anúncios que saíram nas páginas das revistas de música: “Fitas Domésticas Estão Matando a Música – E São Ilegais”, e o logotipo de um cassete imitando uma caveira retangular, com dois ossos cruzados embaixo. Não era só a fita de música, era também a cópia VHS de filmes. O notório executivo Jack Valenti disse uma vez: “O gravador de video-cassete está para o produtor de cinema dos EUA e o público de cinema dos EUA assim como o estrangulador de Boston estava para as donas-de-casa que passavam o dia sozinhas”.
Hoje tudo se repete com o MP3, o CD digital, os saites de troca de música pela Internet. Existe uma batalha jurídica das mais ferozes tentando impedir um fato consumado. Eu me lembro de um velho princípio que tinha nos manuais marxistas do meu tempo de estudante: “Quando os meios de produção evoluem, as relações de produção devem evoluir em paralelo com eles, acompanhando-os. Se não o fizerem, serão atropeladas por eles”. Como esse pessoal tem com Marx a mesma relação que os vampiros têm com a cruz, nunca assimilaram uma verdade tão evidente e que independe de ideologia..
A indústria procura a eficiência máxima, e assim surgiram as tecnologias digitais. Acontece que a indústria é toda segmentada. O pessoal que trabalha no setor de inovações tecnológicas não dá palpite no setor de exploração econômica, e vice-versa. Quando este setor veio perceber que as tecnologias digitais transformavam cada freguês consumidor numa industriazinha de quarto-dos-fundos, num concorrente em potencial, já era tarde. O bloco estava na rua. A corda de caranguejos tinha sido desamarrada, e não havia quem conseguisse tangê-los de volta. E a indústria, em vez de se adaptar aos novos tempos que criou sem querer, declara guerra aos próprios clientes e ameaça botar na cadeia bilhões de pessoas.
Não se aflijam: vai passar. Muitos jovens serão presos porque copiaram alguns MP3, mas a música vai deixar de valer tanto dinheiro quanto vale hoje. Péssima notícia para nós, os compositores profissionais. Ótima notícia para nós, os artistas que querem simplesmente dizer alguma coisa ao maior número possível de pessoas.

4 comentários:

Anônimo disse...

é. sinto que algo tem a ver com as zonas autonomas temporarias aih. mas nao sei bem o que.

mandei um mail pro braulio um dia. ele nunca me respondeu.

Bruno R disse...

pois a mim ele sempre respondeu

Anônimo disse...

TAZ? Onde?

Laurence Lessig começa o livro "Free Culture" (acho, não tenho certeza se o título era esse) falando que, no começo da aviação, alguns proprietários de terra queriam que as companhias aéreas pagassem a eles quando o avião passasse por cima de suas propriedades porque, na lei americana da época, o dono de um terreno possuía desde as profundezas da Terra até os céus acima de suas terras. A analogia é boa.

Anônimo disse...

eram dois: um do MPE e um do MPU, ambos pra jornalista. Vou fazer só o MPU. Mas as inscrições acabaram sexta passada, pros dois. Mandei pra lista o e-mail, porra. Será q ninguém recebeu?