Pesquisar este blog

21.1.07

Na última quarta assisti na TVE o documentário “Mandinga em Manhattan – Como a capoeira conquistou o mundo”, representante da Bahia no projeto Doc TV. Este se trata de uma parceria das TVs educativas com produtores independentes, financiado pelo Ministério da Cultura, que promove a realização de documentários em todos os estados do Brasil.
O documentário dos baianos explora as controvérsias sobre o surgimento da capoeira, a cisão que resultou nos estilos angola e regional, conta a história de mestres lendários como Bimba e Pastinha etc.
Na minha opinião, eles exageram um pouco no bairrismo e dão uma idéia de que a capoeira nasceu (só) na Bahia e de lá se espalhou pro Brasil e pro mundo. Para o historiador Carlos Eugênio Líbano Soares, o Rio de Janeiro também merece ser considerado um dos berços da luta. Soares analisou documentos do século XIX para escrever “A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro (1808-1850)”.
O período não foi escolhido por acaso. Em 1808 o Rio recebeu a família real lusa com sua comitiva de mais de 15 mil pessoas. Essa elite temia que aqui ocorresse uma revolta de escravos como a do Haiti, em 1791. Daí os capoeiristas terem sido duramente reprimidos.
Mas qual o motivo de os baianos requererem a capoeira como sua? Tudo indica que o fato de Salvador não ser o centro do poder contribuiu para que lá a repressão tenha sido mais branda, e por isso a capoeira pôde ser levada à frente com algum fôlego. Maurício Barros de Castro, que fez a reportagem “Mestres da roda”, para a National Geographic (junho de 2006), não me deixa mentir: “A repressão no Rio de Janeiro desterrou a maioria deles para a prisão em Fernando de Noronha. Na Bahia, contudo, a lei não foi levada com tanta consideração”.
A capoeira só deixou de ser crime em 1937, na onda do nacionalismo populista de Vargas. No mesmo ano, Bimba fundou em Salvador o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional. Aí sim, ninguém mais segurou a capoeira.
O foco de “Mandinga em Manhattan” está na internacionalização da dança e no seu caráter diplomático. Mestre João Grande está há 40 anos em Nova Iorque e não fala inglês. Seus mais de 200 alunos primeiro precisam aprender português pra depois poderem lutar e cantar. Não são poucos os entrevistados estrangeiros que falam em português fluente. Muitos quiseram conhecer o Brasil depois que entraram na roda.
Legal. Mas enquanto via o programa e como a capoeira vem sendo exportada, também fiquei refletindo o quanto ela está sem prestígio, um tanto fora de moda, aqui dentro.
Ao mesmo tempo em que exportamos cultura, importamos muito mais. Vide o Hip Hop, que da noite para o dia virou a “legítima forma de expressão da periferia”. Isso me incomoda. É como se antes do Rap não existisse cultura negra no Brasil. Uma das coisas que eu não gosto em Diamante de Sangue (e não são poucas) é que os guerrilheiros sempre escutam Rap americano enquanto usam drogas e mutilam inocentes. Esse pessoal acha que todos os negros do mundo gostam de Rap. Podem até não saber disso ainda, mas gostam. Me lembra aquela época em que a indústria cultural fez todo mundo acreditar que só era jovem quem gostasse de rock.
O samba desceu do morro e parece que pra lá não volta mais, o funk é alienado, D2 se vendeu e só sobrou MV Bill e seus asseclas com cara de mau. Os que defendem o Rap engajado fazem questão de se diferenciar dos colegas americanos que aparecem na MTV falando sobre carrões e mulheres. Essa galera acredita realmente que as letras das músicas e os grafites de protesto vão melhorar a sociedade. Sou mais a malemolência de D2 ou as letras bem-humoradas e inteligentes do injustiçado Gabriel O Pensador do que essa cambada de chatos.
O negócio é que esse pessoal é muito bom de marketing. O grafite ganhou as grifes e tá até na abertura de Malhação. Não que eu não goste de tudo na cultura Hip Hop. Beat Box é legal, por exemplo. Também há grafiteiros que são artistas de mão cheia, como Os Gêmeos, paulistanos conhecidos internacionalmente e cujas obras de engajadas não têm nada. O que me deixa cabreiro é a monocultura do Hip Hop e do caráter de salvador de pátria do qual ele vem gozando. Uma coisa é deixar de ser tachado de coisa de bandido, O.K., outra coisa é virar a salvação da humanidade. Talvez os americanos desencanados é que estejam certos. “Mudar o mundo? Eu quero é beber champanhe e andar com umas gostosas na minha limusine”.
Enquanto os gringos se encantam com a capoeira, aqui ela anda esquecida. Já um negócio sem graça como break, tem um monte de gente fazendo. Sei não. Só pode ter gente ganhando dinheiro com isso.

13 comentários:

Anônimo disse...

Também tenho uma certa birra com o tal movimento hip-hop, e por motivos similares.

Quanto à capoeira não sei, acho que o sucesso lá fora é em boa parte fruto do gosto dos desenvolvidos pelo exótico. E pensei também que, talvez, o Grace Jiu-Jitsu seja mais difundido lá fora que a capoeira, embora tenha menos marketing. Lá na UFPE se apresenta um grupo de capoeira de vez em quando, e tem um monte de gringas (só lembro de ter visto mulheres) treinando.

De toda forma, é mais legal ter gangues de capoeiristas do que gangues de gangsta rappers.

Anônimo disse...

Se vc tivesse usado a função referencial da linguagem, isso seria um artigo; e dos bons.

Bruno R disse...

capoeira nao tem marketing nenhum. e eu gosto muito de ver, mesmo nao sendo gringo. por outro lado, tem coisas "exoticas" q nao descem de jeito nenhum..

Anônimo disse...

Eu respeito a cultura hip hop, mas não gosto nada nada do rap. Sou mais chegada aos grafites (conheço o trabalho dos gêmeos por São Paulo) e curto o break bem dançado (hehe, tou me lembrando do clipe do Offspring, Gimme to me, baby, mostrando um moleque com intimidade zero com a cultura hip hop arriscando uns passos de break). Apesar de Taboão ser uma importante vitrine desta cultura, confesso que não encontro muitos pontos de intersecção entre nós. Ainda assim, pelo seu caráter contestador, leva seu mérito. Só não entendo por que atribuem ao Rappa esta mesma qualidade. Pra mim, as suas letras não dizem nada com nada.

Anônimo disse...

depois verifique se vc consegue entrar n'A Pelada ou se eu tenho que lhe mandar novamente um convite. É que depois que o blogger saiu da versão beta e obrigou a fazer a conta no google, os convites se apagaram. Tive que convidar novamente helber e gretha. Hj teve reunião de pauta e gretha quer transformar a pelada em um programa semanal de rádio. Coisas de ludinha...

Anônimo disse...

capoeira nao tem marketing o caralho. e todo aquele frisson de anos atras? e sinhah moça? tsc.

fiquei com preguica de ler tudo. que tal espaço entre os paragrafos?

hehe

Anônimo disse...

vou demorar uma semana pra criar coragem e ler esse trem e mais uma semana para ler isso por partes...

Anônimo disse...

Rap é uma das coisas mais chatas q já inventaram em matéria de música..

E eu nunca, nunca, me aproximo e paro pra assistir uma roda de capoeira. Ver só pela TV..

Bruno R disse...

gosta de ver capoeira na tv?? hehehe
Falcao, porra, novela sobre escravos nao ter capoeira é como filme de spike lee sem rap.

Anônimo disse...

já viu se entra nA Pelada? tente logo, seu porra, vou viajar e depois vc vai querer postar e não vai poder.

Porra de RAP. Isso nem música é.

Anônimo disse...

a versão não é mais beta, verme, por isso q mudei. Mandei convite pra vc de novo, pros dois e-mails.

Anônimo disse...

felicidades, verme!

Anônimo disse...

bruno, mano...qualquer um q conheça um tico de rap e de hip hop, percebe q vc não sabe do que fala e inevitavelmente fala merda pra carai. não resuma a coisa a d2 e bill.nem o graffiti aos gêmeos do fantástico. isso é justamente o produto enfiado nos cus pela mtv e tentáculos fálicos outros da mídia grande.os comentadores aqui em cima, vão na mesma onda.ouça jurassic 5, b negão, eu e meus amigos,veja titi freak, bunksy... e como o rap, aqui incorporou o samba , o graffiti meteu rolinho e tinta lavável no meio do spray, tornando os muros de cá os melhores do globo, os b- boys daqui enfiam um cangapé de capoeira no meio do break a toda hora.