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25.12.07

Julgando que a guerra se decidiria fatalmente a favor de Hitler, Jean deu um jeito de se esconder no Normandie. A partir do momento em que deixasse o porto, o destino do navio seria o seu destino. Nada poderia ser pior do que morrer lambendo botas de nazistas.
O azar e o susto de ser descoberto logo após deixar Marselha foram logo superados pela alegria de constatar que o capitão, ao invés de mandá-lo andar na prancha, lhe arranjaria uma decente acomodação, com a condição de realizar pequenas tarefas que o marujo neófito tiraria de letra.
Martin, um velho e solitário lobo do mar, desses bem comuns na literatura barata, ainda o convidou para jantar em sua cabine. Mais do que os queijos e os vinhos, Jean gostou de saber que o navio iria para a América.
- Brasil?
- Não. Haiti.
- É perto do Brasil?
- Hum... fica um pouco mais ao Norte. Passaremos por Belém. Você pode desembarcar lá, se quiser.
Era muito mais do que o rapaz pedira a Deus: um país sem guerras, ensolarado e ainda a oportunidade de conhecer a Amazônia! Iria conhecer os índios de rabo de macaco! As tribos de descendentes de naúgrafos piratas!..
Como não era besta, Jean logo descobriu como um jovem que concentrava diversos adjetivos, dos cabelos loiros aos olhos azuis, da lábia ao vestir-se impecável, além do simples fato de ser europeu, podia viver confortavelmente da generosidade das balzaquianas locais. Bonitas, feias, magras, gordinhas, solteiras, casadas, viúvas... um detalhe em comum: dinheiro.
Mas aquela vida, acreditem, não satisfazia Jean. Cafés, passeios, teatros e a pequenez de espírito das donzelas provincianas o entediavam profundamente. A rotina era por demais enfadonha para o Indiana Jones francês. Foi aí que começaram as explorações.
Certa vez, Jean caminhou duas semanas dentro da floresta, sobre um mapa imaginário, a ver se descobria uma mulher que vivia com um gorila. Não imaginem o trabalho para convencer o imigrante da ausência de gorilas na Amazônia. Não podia admitir, na fantasia gaulesa, que um vale de gigantes como aquele, um leito de mundos, não abrigasse gorilas...
Não podia ver um arco, uma flecha, um vaso marajoara, sem comprar. Seu quarto de hotel era um museu. Araras, urnas funerárias, bordunas, colares de dentes de onças e até cabeças mumificadas vindas do Peru amazônico.
Com o tempo, acabou por descobrir que tudo era falso. As urnas jamais tinham sido o repositório de um índio morto, mas saíram da indústria de índios muito vivos, num bairro de Belém. Os colares azuis, verdes, amarelos, onde se penduravam caninos de hipotéticos guerreiros autóctones, não passavam de apanhados de dentes de macacos submetidos, em vida, a esse processo extrativo altamente rendoso.
A mais grave decepção de sua aventura verde ele teve ao consultar um índio, nos arredores de Gurupá. Queria saber em que tempo a gaiola fluvial levaria até Belterra. O índio entrou na maloca e saiu de lá com uma espécie de Guia 4 rodas.
- Nessa geringonça - disse o silvícola, num português irrepreensível - o cavalheiro só chega lá depois de amanhã. Se preferir, o distinto pode passar a noite num hotel perto daqui. Amanhã passa um Baby-Clipper da Panair, da qual sou representante, que deixará o senhor em seu destino em 45 minutos.

*Esse texto não seria escrito sem a ajuda do Google e O Cruzeiro

3 comentários:

Mythus disse...

Essas balzaquianas eram bestas demais... pagavam até o aluguel do cara e eram incapazes de dizer que aquilo que ele comprava fazia parte da indústria do turismo... tsc, tsc...

::: Luís Venceslau disse...

Só não entendi o linguajar, meio coloquial, meio classudo.. e não sei pq lembrei de "cinema, aspirina e urubus"..

Anônimo disse...

meu deus, como vcs bao abriram meus olhos pra dois erros terriveis de revisao?! à correção!

luis, do q vc fala especificamente? linguajar? o texto é quase todo em discurso indireto..