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2.11.09

"Você matou um homem apenas porque ele se desnudou na sua frente?"
"Não, não... Sim, também por isso."
"O que você fez com o corpo?"
"Vesti-o com suas roupas - já me acostumara a vestir gente morta - e ensaiei, como se fôssemos dois bailarinos, o modo de transportá-lo para a rua. Ele era frágil, pequeno, pesava apenas uns cinquenta quilos. Passei seu braço direito em torno do meu pescoço, segurei sua mão direita com minha mão esquerda e enlacei-o fortemente pela cintura com meu braço direito, levantando-o um pouco, de maneira que seus pés mal tocavam o chão. Passeei - na verdade, dancei - com ele dentro do quarto, em frente ao espelho. Eu queria que ele parecesse um bêbado sendo conduzido para casa por um amigo dedicado. Quer que eu te mostre como? Põe o braço aqui."
"Não."
"Esperei algumas horas, até pouco antes da madrugada, uma hora morta nos hotéis, em que a portaria está sempre ocupada por funcionários menos competentes. Saí com Sandro, passei pela portaria dizendo ao porteiro sonolento e desinteressado que meu amigo se excedera na bebida. Deixei-o sentado numa das cadeiras de calçada, presas à mesa por correntes para que não fossem roubadas, de um bar àquela hora fechado. Tirei todo o dinheiro do seu bolso e o relógio de pulso, do qual me livrei ao voltar para Paris."
"E o corpo não foi achado?"
"Foi. Saiu uma notícia pequena nos jornais, dizendo que Sandro Morelli - esse era seu nome completo - tinha uma ficha criminal de prostituição masculina, furto e outras infrações menores. A polícia voltou sua atenção para pistas falsas, suspeitos inocentes. Mais uma vez eu fora salvo pela estupidez da polícia."
"Não sei o que pensar", diz Clotilde. "Você não me parece um assassino reincidente. Mas sinto que é tudo verdade. E me pergunto, serei a próxima?"
"Deixa eu mordeu teu joelho", diz Landers, deitando-se de costas no chão.
Clotilde, inteiramente nua, ajoelha-se sobre Landers de forma a que o tórax do homem fique entre suas pernas abertas. Depois levanta um dos joelhos e encosta-o na boca de Landers. ele morde a rótula de Clotilde, deslocando o osso suavemente. Depois morde o outro joelho.
"Morde primeiro minha clavícula", diz Clotilde, curvando-se sobre ele. "Com mais força. Pobrezinho..."

Romance Negro, Rubem Fonseca

3 comentários:

.ailton. disse...

do caralho!

::: Luís Venceslau disse...

Chico Buarque queria ser Rubem Fonseca.

Carolina Queiroz disse...

Todo mundo (que se preze) queria ser Rubem Fonseca.