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5.7.11

A Revista Piauí do mês passado traz uma matéria sobre o choque do boeing da Gol com o jato da Embraer, em 2006, que matou toda a tripulação e passageiros do primeiro. A reportagem é uma edição de trechos do livro "Perda Total", de Ivan Sant'anna, que a Objetiva lança este mês. O autor ouviu as caixas pretas, consultou relatórios e outros documentos, leu e ouviu tudo o que foi divulgado sobre o acidente, sem falar que Sant'anna é piloto amador e um pesquisador de longa quilometragem do assunto, com outra obra dedicada a desastres aéreos, "Caixa Preta". Isso tudo pra dizer que a riqueza de informações do texto impressiona. E instiga.

O que mais chama atenção é a macabra coincidência de mancadas, que vai desembocar numa co-co-co-corresponsabilidade pelo acidente. Se só um lado tivesse errado, a tecnologia teria evitado a tragédia, mas a culpa é compartilhada, na terra e no ar - os mais "inocentes" foram o piloto e copiloto da Gol, que no momento da batida olhavam fotos em uma câmera digital, mas eles estavam em "voo de cruzeiro", o avião não estava subindo nem descendo, numa altitude constante e, portanto, não havia com o que se preocupar; era tocar o piloto automático, já que naquela altitude seria impossível uma aeronave voar em sentido contrário (também no céu há mão e contra-mão) e, se por acaso isso viesse a acontecer, o transponder avisaria a tempo de desviar...

A dupla que comandava o legacy tratava de levar o jato recém-adquirido pela empresa americana de táxi aéreo ExcelAire, de São José dos Campos, sede da Embraer, para a Flórida, com escala em Manaus. A caixa-preta revelou que ambos passaram o tempo todo brigando com o notebook para entender como o sistema do jato funcionava. Além disso, as tentativas de comunicação com o controlador de voo do Cindacta 1, em Brasília, foram frustradas pela deficiência deste no idioma daqueles, entre outras coisas. "O controlador Jomarcelo dos Santos foi absolvido de todas as acusações pelo juiz Murilo Mendes, sob a alegação de que, 'pelas notórias deficiências' da sua formação, 'só se pode agradecer por ele não ter errado com muito mais frequência'", relata Sant'anna.

Mas antes, ainda no chão, o controlador de São José dos Campos informou aos pilotos americanos que eles deviam voar no nível 370 (3700 pés) até Manaus. Porém o plano de voo estabelecia essa altitude tão somente até Brasília. Ali, deveriam subir para 380. Inexperientes não só com o modelo do jato mas também em relação ao espaço aéreo brasileiro, Lepore e Paladino ignoravam que, indo da capital federal para o Norte, os aviões só podem voar em níveis pares, enquanto que, do Norte para o Sul, como era o caso do boeing, que vinha de Manaus, tomam os ímpares.

Portanto, o Gol estava certo, mas os americanos - e o controlador de São José -, não. Mas, ainda assim, se eles tivessem se preocupado em ler o plano de voo, localizado no escaninho da cabine, bem à frente de suas barrigas, poderiam ter mudado o rumo... Mas não tiveram "airmanship", que significa, (bem) basicamente, prudência. Sem querer, ainda desligaram o transponder e por quase uma hora não se deram conta que ele permaneceu off, o que tornou o jato invisível para o Cindacta 1 e o Gol.

O mais incrível é que a aerovia UZ6 tem 80 quilômetros de largura. Ou seja, o mais provável, como narra Sant'anna, seria que "os dois jatos se cruzarem sem que seus pilotos, mesmo que estivessem olhando para fora, nem vissem a passagem um do outro".

Continua: "Se, por inspiração do demônio, os comandantes Chaves Júnior e Lepore e seus copilotos tivessem planejado e calibrado em seus instrumentos de bordo para aquele roçar de asas, não teriam conseguido. Segundo descrição da revista Vanity Fair, foi como se dois índios, um em cada extremidade de aldeia, e sem saber o que o outro estava fazendo, lançassem flechas para cima e elas se tocassem levemente no ar."

3 comentários:

.ailton. disse...

vai ver tinha alguém dentro do avião que tinha um pacto de venda de alma com o diabo e já estivesse com o pagamento atrasado.

tu leu o livro (ou a revista), fez um resumo pra alguma cadeira da universidade (ou coisa parecida) e aproveitou para publicar alguma coisa no blog. bem a tua cara isso, como sempre.

Bruno R disse...

vai tomar no cu, n tou estudando, viado

C. Maria disse...

Adoro a sutileza de Bruno R.