Rubem Fonseca, once again, sobre a Copa de 50:
"O jogo com a Espanha foi inesquecível. O estádio estava superlotado, como nas outras ocasiões. A Espanha tinha um timaço. Ganhamos por 6 a 1. Quando fizemos o quarto gol, aos onze minutos do segundo tempo, o estádio começou a cantar a marchinha popular "Touradas em Madri". Não demorou muito para que as duzentas mil pessoas (ou mais, consta que houve uma invasão de penetras por um dos portões) começassem a cantar em uníssono: Eu fui às touradas em Madri, pararatibum, bum, bum, pararatibum, bum, bum, e quase não volto mais aqui, pra ver Peri beijar Ceci, pararatibum, bum, bum, pararatibum, bum, bum. Quando a multidão cantava pararatibum, bum, bum, o som era tão estentóreo que o cimento e os vergalhões de ferro das arquibancadas tremiam e vibravam como se fossem se romper. Nunca houve, nem haverá, um coro de vozes tão faustoso, magnificente, pomposo, ruidoso, dantesco, apoteótico, em que centenas de milhares de pessoas empolgadas e felizes cantavam em uníssono, a plenos pulmões, celebrando de maneira fantástica uma vitória. Sou um velho escritor profissional, mas não tenho palavras para descrever aquele momento."
Imagine se tivesse. Vamos à final, contra a Cisplatina:
"Quando o jogo acabou, o silêncio foi profundo, tão estrondoso (perdoem o oxímoro) que doía em nossos ouvidos. Duzentas mil pessoas mudas e surdas. Até os choros eram silenciosos, e as lágrimas escorriam apenas dos olhos dos mais fortes, aqueles que não haviam ficado transidos, estarrecidos e obnubilados com a desgraça que se abatera sobre nós.
O sofrimento do dia 16 de julho de 1950 jamais esquecerei. Para descrever o que senti naquela tarde, vem-me sempre à mente a famosa frase de Conrad, em O coração das trevas: o horror, o horror, o horror."
2014 está aí.
2 comentários:
Pra ilustrar o post, já q vc não colocou:
"Touradas em Madri"
Deve ter sido foda mesmo.
sobre futebol nem tenho muito o que comentar... (nada,na verdade)
Postar um comentário