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12.11.10

Ele odiava, mas ia suportando assistir àquelas barbaridades diárias que a mulher acompanhava com atenção religiosa, só quebrada quando comentava sobre os crimes - como se o apresentador já o não fizesse. Mais do que o tom fascista ele ficava puto, sobretudo, com a forma como o âncora se olhava o tempo todo no monitor, se mexendo ou ficando parado e pedindo pro câmera fazer certo movimento, e em seguida recomeçar o processo.

- Você mima esse menino demais. Ele vai acabar como esses marginais. Você já conversou com ele sobre drogas? Por mim ele não saía de noite. Você dá muita liberdade.

Ela já fora uma mãe amorosa. Pouco a pouco, o menino foi se aproximando mais do pai. E à medida que isso acontecia, ela ia dando cada vez menos atenção ao pequeno. E tinha ciúmes. Do filho com o pai. E do pai com o filho.

Na cabeça simples dela tudo se explicava pelos presentes. Dinheiro compra até amor verdadeiro, ela concluiria, se lesse Nelson Rodrigues. Não entendia que o filho amava o pai, entre outras coisas, porque, apesar de tudo, ele respeitava e amava quem o filho respeitava e amava – ela, a mãe. Ao menos é o que parecia.

Ele não via o pai falando mal ou tratando mal a mãe, muito pelo contrário.

Aliás, o pai falava pouco, gostava de se expressar através de gestos. Nunca se exaltava, era sincero sem soar constrangedor –

O moleque é adolescente. Sabe como é adolescente. Ser adolescente é uma merda. Muitos desses meninos que você vê fazendo essas coisas, fazem porque, se a vida dum adolescente já é um saco, imagina a de um adolescente pobre! Aí vem o pai e mãe aporrinhar, moleque vai pra rua mesmo. E faz besteira. Porque cabeça de adolescente tem o quê? Merda. Dou dinheiro sim, deixo sair sim. Pra falar a verdade, ele nem me pede. O que eu dou ainda sobra, ele me falou que tá juntando. É um moleque doce, inteligente, você nem conhece seu próprio filho. Se conhecesse não falava uma besteira dessas. Você sabe até que Fátima Bernardes entorta a boca pro lado esquerdo quando fala, mas não conhece seu filho. Ele é uma pessoa melhor do que você e eu juntos. Se divertir, fumar maconha, não quer dizer nada. Ele é a minha vida. Quando compartilha as conquistas, as dores, as descobertas, é como se fosse eu... Quem diria, logo você? Eu lembro como se fosse hoje. Com você foi diferente. A mudança no tom da sua voz quando falava comigo, quase gaguejando, ficando vermelha, a respiração suspensa. Você, que se achava tão segura. E que ainda por cima era gostosa pra caralho. Casei... Eu e minha onipotência e onisciência de longos 17 anos vividos. Puta, como adolescente faz merda...

-, quase sempre.

5 comentários:

.ailton. disse...

gostei. mas gostei mais da pontuação.

C. Maria disse...

Legal o texto, Erre :)

O pior é que a gente continua fazendo muita merda mesmo depois da adolescência...

Dina disse...

Brunete, tu estás mais profundo. Com um post desses, mal dá pra lembrar que tu foste o precursor do twitter, com posts de 140 caracteres.

Anônimo disse...

Hi,

I begin on internet with a directory

Laíza disse...

ler isso logo na semana que me surge uma espinha inflamada na ponta do nariz só me faz concluir que adolescencia nao passa nunca, viu